
poemas e textos sobre tudo e nada
Qua, 30 Jun 2004
São grandes, atléticos,
Com uma bola no chão
Lutam onze contra onze
Sem poder usar a mão
À sua volta, patéticos,
Encontra-se uma multidão
Olham com olhos de bronze
Numa grande excitação
No meio da arena, perdido
Anda, corre, castiga
De negro negro na sua sapiência
À espera que o jogo siga
Incompreendido e mal amado
Vai seguindo o ritual
Fazendo das regras do jogo
O seu objectivo final
Entretanto correm na praça
Mais vinte e dois marmanjos
Que pela corrida que fazem
Da morte parecem anjos
Tudo para na rede
Tentar pôr um pedaço
Redondo e imperfeito
De couro entrelaçado
E este país bendito
Decide que é importante
Não pelo que se faz e fica
Mas pelo desporto andante
Portugal, meu país
Sabes que não te quero mal
Mas não sabes que o futebol
Te pode ser fatal?
Estas multidões que rugem
Ao mais pequeno lance
Desconhecem teu valor
Na sua vista alucinante
Porque há-de o teu valor
Depender dos gladiadores
Que, muitos nem apreciam,
Nem lhes sentem grandes amores
Portugal, Portugal
Como avançar neste mundo
Em que te limitas mal
Ao desporto menos fecundo!
30/6/2004
[00:00] |
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Caminhava eu pela inóspita floresta
Quando dei de caras com uma fadinha
Trazia nos seus olhos as estrelas
Nos seus lábios, uma varinha.
Ao contrário de tantas outras,
Não usava pó de estrelas
Nem sequer outras artimanhas
Dava-nos energia pelos olhos dela
Um sorriso, uma mágica
Um olhar surpreendido
E nenhum de nós é o mesmo
Neste mundo perdido
No entanto algo se passou
Algo que desconhecemos
E que, sem saber porquê
Nós todos tememos
A fadinha desapareceu
Mental e fisicamente
Sem saber o que se passava
Andava tudo demente
Ainda apareceu um dia
Estava irreconhecível
Quem a olhasse nos olhos
Tinha uma visão terrível
Tentou-se averiguar
O fundo desta questão
Como podia a fadinha
Perder seu coração?
E forças mais altas responderam
Às preces de uma turba alarmada
E, pouco a pouco, resolveram
Os problemas desta fada
Hoje a fadinha voltou
A distribuir sua magia
Entre quem a conhece
E dela a falta sentia...
24-28/7/2004
[00:00] |
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Ter, 29 Jun 2004
Simplesmente é...
E no entanto
Para meu espanto
Essas horas sombrias,
Essas ideias fugidias,
Passam pela minha cabeça
Como quem na vida tropeça
Simplesmente é...
Mas corro para estes momentos
Para salvar meus tormentos
De um futuro invejoso
Onde não há nenhum gozo
Que não tenha lugar
Enquanto eu respirar
Simplesmente é...
Mas eu deixo que assim seja
O mundo a quem o deseja
Não a quem corre escondido
E é de si próprio temido
Passo horas descansado
Com o meu eu atormentado
Simplesmente é...
E continuará a ser
Enquanto algo para dizer
O meu cérebro vai tendo
E as emoções for lendo
Desde o dia amanhecer
Não tenho nada a perder
Simplesmente é...
E recuso-me a seguir
A regra do partir
Do meu cérebro fugir
De mim próprio não ouvir
Deixo isso aos mortos-vivos
Que pela rua são tidos.
[08:51] |
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"Sejam bem aventurados os pobres de espírito
Pois deles será o reino dos céus"
Poucas frases me fazem pensar
Ao mesmo tempo e sem tardar
Em injustiça e em pecar
Sem pensar nas consequências
Esta ode à ignorância
À qual falta substância
Não limita a minha ânsia
De cada vez mais aprender
Tenho pena é daqueles
Quem sem saber são eles
Que perpetuam a desgraça
De permitir a trapaça
Não são os erros que me chateiam
Nem mesmo que as pessoas não leiam
É a recusa de aprender
De este mundo reconhecer
De tentar mais longe chegar
Seja aqui ou mais longe no mar
De o mundo todo atravessar
Para no fim poder amar
29/6/2004
[00:00] |
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Dom, 27 Jun 2004
Há um segredo bem guardado
Negro, escuro, imundo
Que é do conhecimento
De todos os poetas do mundo
O segredo não é escondido
Está escrito, publicado
Deixamos as pistas ao vento
Para quem seja chamado
A tentar, como nós
A escrever os sentimentos
A descrever em palavras
Cada um dos seus momentos
Mas sabemos que é falso
Tudo aquilo que escrevemos
Não são simples sentimentos
Apenas memórias que revemos
E o poema resultante
É um exercício mental
Não apenas d'inspiração
Mas inspirado afinal
E o tormento dos poetas
Que toda a sua vida revive
É a noite, a paz, a calma
Em que o papão reside
E o papão, bicho mau
Não é um monstro horrendo
Mas os pensamentos estranhos
Que vivemos temendo
As dúvidas, as incertezas
Os melhores e piores momentos
Revivemos constantemente
São os nossos tormentos
Tentamos ocupar o cérebro
Música, rádio, televisão
Tudo o que evite pensar
Até serve a exaustão
Um poeta ama a vida
A sua, e a dos outros
Não por se sentir mais vivo
Mas para não se sentir morto
E temendo a paragem,
A calma, a paz, essa viagem
Continua sem rumo certo
Sentindo apenas uma aragem
Dos momentos que passaram
Das felicidades vividas
Dos temores que nos rodeiam
Das oportunidades perdidas
E dormindo sem sonhar
Ou, pelo menos, não se lembrando
Uma alma atormentada
Vai caindo no engano
É o tormento dos poetas
Reviver o mundo frio
Atravessando assim a vida
De fio a pavio...
27/6/2004
[00:00] |
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Ter, 22 Jun 2004
Estava entre os meus amigos
Numa conversa animada
Até que chegou um momento
Uma pergunta inesperada
Porque andas diferente
Nestes dias que passaram?
Os sorrisos que tinhas
Porque desapareceram?
De um momento para o outro
Fugiu a cafetaria
Estava no meio de um tribunal
Sem saber o que faria
À minha volta anciãos
Nos seus fatos sombrios
Olhavam, expectantes
Causavam-me calafrios
Perguntei de que me acusam
De que sou acusado
Dizem-me secamente
De ser diferente do passado
Como posso explicar-lhes
Que mudei com o que sinto
No mínimo vão achar
Que se não os gozo, minto
Começo a jogar à defesa,
Pergunto-lhes o que acham
Cada um individualmente
Que me diga o que passam
Vejo a luz dos archotes
Nas suas caras a dançar
A sua tez preocupada
E um prepara-se para falar
Diz-me que estou diferente
Onde antes sorria e gozava
Reajo com indiferença
A tudo o que me rodeava
Digo-lhe o que se passa
Não vale a pena esperar mais
Os outros já o sabem
Porquê adiar mais
Os sentimentos que sinto
Não são únicos nem fatais
Mas não posso impedir que mudem
O mais fundamental dos meus ais
Pouco a pouco os outros juntam
As suas observações
Será que não lhes escapou nada?
Começo a ter visões
De paranóias forçadas
De vigilância constante
De um medo de ser vigiado
De viver num mundo estanque
Desço um pouco à realidade
Destes não tenho nada a temer
Não estou numa floresta negra
Não me querem ver morrer
Pelo contrário, preocupam-se
Com as coisas mais simples da vida
Mesmo uma mudança minha
Pensam que deve ser bem vivida
Com eles posso contar
Sei que me dirão a verdade
Esteja eu mais alegre
Triste, ou com humildade
É bom no fim poder dizer
Que, mesmo ao anoitecer
Com eles posso contar
Para a vida viver.
[11:30] |
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Seg, 21 Jun 2004
Viver
Verbo estranho sem significado
Cujo sentido procuramos toda a vida
Até concluir que o que é feito
Conta menos que a própria ida.
Prazer
Pequeno momento sentido fortemente
Em que cada um parece sem igual
Por ele há quem diga que fica demente
Outros dizem que é apenas normal
Amor
Substantivo que escapa à descrição
Apesar de ser, sem dúvida, o mais definido
No entanto tentamos captar a ilusão
De um estado etéreo que só é vivido.
Ciúme
Nome dado ao lado negro da paixão
A sua base é sem dúvida a insegurança
De quem ama mas não tem razão
Para achar que merece a confiança.
Amizade
O mais temido termo dos apaixonados
Vista como o prémio do perdedor
Poucos reconhecem a verdade
Que é apenas mais uma forma de amor.
Esperança
Acompanha todo o apaixonado
Em particular o não correspondido
Esperar é o seu dia a dia,
O seu pecado,
É do seu tempo banido.
Coração
Orgão que reage ao exterior
Como quem sente tudo o que se passa
Confundem-no com o órgão do amor
Como se fizesse tal trapaça.
Sonho
Quando a realidade não chega
Só nos sobra sonhar acordado
Algo etéreo, amado, singular
Sonhar que se é amado.
[16:30] |
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Dom, 20 Jun 2004
Há momentos únicos que com os amigos são partilhados,
Momentos perenes, simples, rápidos que são sempre passados,
Momentos que, reviver, não são mais que uma ilusão
Momentos que, ao recordar, a nossa vida lembrarão.
Felizmente nem todos os momentos são tão ilusórios, efémeros
Há chaves para o seu mundo: um cheiro, um som, um sabor
E há outros momentos, que embora não partilhados no tempo
Pode-se, através destas chaves, partilhar no sabor.
Deixo-vos uma destas chaves de um momento feliz
Que saboreei em tempos, quando era mais petiz,
De uma região que em tempos foi de sonho
Onde parte da minha dor hoje em dia ponho.
Espero que apreciem este simples presente.
20/6/2004
[00:00] |
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Sex, 18 Jun 2004
Nada é meu
Nada é eterno
Durmo à noite
De dia desespero
Tanto medo de perder
O nada que eu tenho
Que o meu lado racional
Trata disto com desdenho
Porquê o medo de perder?
Sempre que não me preocupei
Algo bom, algo novo
Algo sempre ganhei
Um dia hei-de perceber
Que só tenho o que penso
E aí vou descobrir
Que tenho o mundo imenso.
18/6/2004
[00:00] |
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Qua, 16 Jun 2004
Não sei como aguentas
Todos os dias a nascer
Sobre esta selva de pedra
Onde ninguém te aprecia
És tu o astro-rei
Senhor de toda a vida
Porque iluminas tu
Esta cidade esquecida
Aqueles que te dão respeito
Foram expulsos destes lados
Os poucos que restam
Pelos prédios estão ensombrados
Serás tu como Sísifo
Dono de uma tarefa eterna
De surgir no horizonte
Para fazer a Terra terna?
Se assim for, o meu bom dia
Teu desejo é de respeitar
Obrigado por, outro dia,
A minha vida vires alumiar.
[10:41] |
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Seg, 14 Jun 2004
Foi o dia das surpresas
Foi um dia a recordar
Quando indiscritíveis belezas
Aos meus olhos foram parar
Foi o dia mais longo
Que até hoje eu vivi
Foi um dia apaixonado
Foi o dia em que senti
Tudo começou numa tarde
Um convite inusitado
"Queres vir a uma festa?"
Por um momento fiquei pasmado
Dei logo a minha resposta
"Teria muito prazer!"
Enquanto algo cá dentro duvidava
Em que festa me fui meter
Durante as horas seguintes
Foi apenas a preparação
Uma bebidas para uns
Para outros alimentação
Num embrulho especial
Havia uma prenda preparada
Ninguém desconfiava que
Num cofre estava guardada
Com tudo distribuído
Começámos a andar
Em direcção a uma casa
Onde nos estavam a aguardar
Ficou a ponte para trás,
Quando o rio atravessámos
A autoestrada passou
Quando para o local virámos
Uma voltas mais estranhas
Chegámos aquele lugar
Onde nos esperavam surpresas
E outras coisas de encantar
Os cumprimentos habituais
A bebida à disposição
A descoberta de um banquete
Faziam prever um bom serão
Pouco a pouco passou a noite
Entre jogos e conversas
E foram-me surgindo
As surpresas mais diversas
Um momento alto da noite
Passou-se com a aniversariante
Quando o embrulho viu
Até se esqueceu do restante
Algum tempo depois,à luz da vela
Apanhei um momento mágico
Nas caras uma melancolia
Que nada tinha de trágico
Olhando o céu estrelado
Surgiu a necessidade
De o ver mais completo
Esse símbolo d' amizade
Água, fogo, céu e terra
Numa mistura de elementos
Sentimos momentos mágicos
Afastámos os tormentos
Num ambiente já mágico
Ouviu-se cantos entoar
Viram-se estrelas cadentes
Ouviu-se o rugido do mar
Foi passando assim a noite
Entre conversas de amigos
Chegou a madrugada
A hora dos retiros
Uma conversa final
Entre quem lê e quem escreve
Marcou o fim da madrugada
Para quem sono não teve
Seguiram-se momentos de repouso
Para dormir e para sonhar
E as horas foram passando
Até termos de acordar
Veio a festa, parte II
Num caminho para a beira-mar
Por estradas variadas
À praia fomos parar.
Entre banhos e mergulhos
Conversas e bronzeados
Houve almoços e murmúrios
Houve bronze e queimados
Mas lá para o fim do dia
Num acesso de loucura fatal
Lembrámo-nos de continuar
O programa anormal
Assim invadimos um domicílio
Para a areia expurgar
Para melhor nos sentir
E ainda mais aproveitar
A seguir a uma central
De consumo fomos ter
Fomos os bilhetes comprar
E de seguida comer
Antes da hora do filme
Um pouco fomos jogar
Um jogo desgraçado
Que não queremos recordar
O eterno crepúsculo da mente pura
Veio nos ensinar que repetindo os erros
A vida se torna mais dura
De uma caça ao automóvel
A um passeio nocturno
Acabou-se este dia
O início e fim de tudo.
[15:32] |
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Sáb, 12 Jun 2004
Quando somos crianças dizem-nos que:
nos temos de portar bem,
calar quando falam connosco,
só responder quando nos for algo perguntado,
brincar com cuidado com a roupa e os brinquedos,
fazer o que os outros mandam,
brincar no tempo certo,
partilhar com os outros.
Quando somos adolescentes dizem-nos que:
é perigoso experimentar,
é importante ouvir e calar,
os amigos nem sempre são bons,
rapazes e raparigas terão o seu tempo para se conhecer,
os pais são assim para o nosso bem.
Quando somos adultos descobrimos que:
só há uma vontade: a nossa,
os erros são nossos, mas também as vitórias,
os conselhos têm o valor que lhes damos, nem mais nem menos,
liberdade implica responsabilidade,
o que fazemos ou não fazemos é tanto por medo como por coragem,
ouvir e calar é algo temporário e prejudicial à saúde,
experimentar é a única forma de desenvolver,
a única certeza, além do nascimento e da morte, é o medo,
há coisas em que não vale a pena pensar muito,
o que importa é viver, não sobreviver.
[02:24] |
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Sex, 11 Jun 2004
Olhei-me no espelho e não me conheci
Ando vaidoso,
animado,
energético,
impulsivo
De repente o mundo parece-me maravilhoso
Sei o que se passa, mas não o admito
Estou a aproveitar a corrida ao máximo
Mesmo quando estou no lugar do condutor
Talvez pare, mais tarde
Talvez tudo isto pare
Não seria novidade
[10:54] |
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Qui, 10 Jun 2004
Mais um passo, mais um dia acabado
A noite esconde o receio final
De que mais um dia foi desperdiçado.
Para onde vamos afinal?
Procuramos sobreviver na vida dura
Fazendo as melhores escolhas, uma a uma,
Mas continuamos sempre à procura
Daquele outro que nos tirará da bruma
E enquanto esperamos, vivemos mal
Porque a única certeza no futuro
É que virá um certo salvador
Que à vida dará outro rumo
E olhando o mundo à nossa volta
Aceitamos a guerra, a fome e a injustiça
Porque esta não é a nossa vida
É apenas uma capa postiça.
E assim o mundo muda
Lentamente por sinal,
Porque os desgraçados esperam
Que, simplesmente, acabe o mal
Assim reina a prepotência
No mundo que não é seu
Porque quem espera melhor vida
De boa vontade o cedeu.
Assim seguimos nesta marcha
Com um destino fatal
De nos mantermos desgraçados
Neste mundo desigual.
[04:00] |
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Sou louco, sei-o há muito,
Desde que me conheço
Que sei de fonte segura
Que na normalidade só tropeço
Não consigo reconhecer
O que os outros dizem que sentem
Chego mesmo a pensar
Se não são os outros que mentem
Mas não deve ser o caso
Existem tantos dos outros
Que a realidade transparece
Até aos olhos dos loucos
Sendo assim fico frustrado
E um pouco amargo por sinal
Afinal sou eu o louco
Se só eu é que estou mal
Talvez um dia eu perceba
De que eles estão a falar
Quem sabe se até este louco
Não começa a normalizar
[04:00] |
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A chama de uma vela
É a chama da verdade
Não porque alguém o queira
Nem pela sua vaidade
Aquilo que a faz tal
É a sua luz imperfeita
A sua sombra silenciosa
Torna-se a vantagem eleita
Esta sombra nunca pára
Olha-nos de todo o lado
Salta sempre à nossa volta
Como quem não tem passado
Uma vez de uma lado
Outra vez de outro
Voltando, ou não, ao inicial
Como os passos de um potro
A incerteza dos seus saltos
Identificam os fingimentos
De quem tenta esconder
Os verdadeiros sentimentos
O sorriso de conveniência
O curto riso forçado
Precisam de uma luz
Que se foque no passado
E a sombra saltitante
Acriançada e divertida
Vai deixando nos nossos olhos
A verdade da vida
[04:00] |
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