Estava entre os meus amigos
Numa conversa animada
Até que chegou um momento
Uma pergunta inesperada
Porque andas diferente
Nestes dias que passaram?
Os sorrisos que tinhas
Porque desapareceram?
De um momento para o outro
Fugiu a cafetaria
Estava no meio de um tribunal
Sem saber o que faria
À minha volta anciãos
Nos seus fatos sombrios
Olhavam, expectantes
Causavam-me calafrios
Perguntei de que me acusam
De que sou acusado
Dizem-me secamente
De ser diferente do passado
Como posso explicar-lhes
Que mudei com o que sinto
No mínimo vão achar
Que se não os gozo, minto
Começo a jogar à defesa,
Pergunto-lhes o que acham
Cada um individualmente
Que me diga o que passam
Vejo a luz dos archotes
Nas suas caras a dançar
A sua tez preocupada
E um prepara-se para falar
Diz-me que estou diferente
Onde antes sorria e gozava
Reajo com indiferença
A tudo o que me rodeava
Digo-lhe o que se passa
Não vale a pena esperar mais
Os outros já o sabem
Porquê adiar mais
Os sentimentos que sinto
Não são únicos nem fatais
Mas não posso impedir que mudem
O mais fundamental dos meus ais
Pouco a pouco os outros juntam
As suas observações
Será que não lhes escapou nada?
Começo a ter visões
De paranóias forçadas
De vigilância constante
De um medo de ser vigiado
De viver num mundo estanque
Desço um pouco à realidade
Destes não tenho nada a temer
Não estou numa floresta negra
Não me querem ver morrer
Pelo contrário, preocupam-se
Com as coisas mais simples da vida
Mesmo uma mudança minha
Pensam que deve ser bem vivida
Com eles posso contar
Sei que me dirão a verdade
Esteja eu mais alegre
Triste, ou com humildade
É bom no fim poder dizer
Que, mesmo ao anoitecer
Com eles posso contar
Para a vida viver.
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