Há um segredo bem guardado
Negro, escuro, imundo
Que é do conhecimento
De todos os poetas do mundo
O segredo não é escondido
Está escrito, publicado
Deixamos as pistas ao vento
Para quem seja chamado
A tentar, como nós
A escrever os sentimentos
A descrever em palavras
Cada um dos seus momentos
Mas sabemos que é falso
Tudo aquilo que escrevemos
Não são simples sentimentos
Apenas memórias que revemos
E o poema resultante
É um exercício mental
Não apenas d'inspiração
Mas inspirado afinal
E o tormento dos poetas
Que toda a sua vida revive
É a noite, a paz, a calma
Em que o papão reside
E o papão, bicho mau
Não é um monstro horrendo
Mas os pensamentos estranhos
Que vivemos temendo
As dúvidas, as incertezas
Os melhores e piores momentos
Revivemos constantemente
São os nossos tormentos
Tentamos ocupar o cérebro
Música, rádio, televisão
Tudo o que evite pensar
Até serve a exaustão
Um poeta ama a vida
A sua, e a dos outros
Não por se sentir mais vivo
Mas para não se sentir morto
E temendo a paragem,
A calma, a paz, essa viagem
Continua sem rumo certo
Sentindo apenas uma aragem
Dos momentos que passaram
Das felicidades vividas
Dos temores que nos rodeiam
Das oportunidades perdidas
E dormindo sem sonhar
Ou, pelo menos, não se lembrando
Uma alma atormentada
Vai caindo no engano
É o tormento dos poetas
Reviver o mundo frio
Atravessando assim a vida
De fio a pavio...
27/6/2004
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